13 de janeiro de 2020

Para Marias

Ontem, uma Maria morreu.

A morte é doída porque se despedir de quem amamos dói. Imagine então, para sempre. Imagine então, repentinamente. Imagine então, se a Maria escolheu morrer.

Ontem eu chorei porque, por uns segundos, eu a invejei. Depois chorei porque pensei em todos que me amam. E chorei imaginando o quanto ela sofreu com essa dualidade entre "fazer o certo"e escolher esse caminho.

Eu sempre digo que não se preocupem, porque não vou me matar. Como eu sei? Porque na minha escolha (balança), por pior que sejam os contras, os prós sempre serão maiores. Ainda sobre escolhas, ontem li uma verdade num comentário. Quem está decidido, vai fazer e ponto. Não há nada, absolutamente, que você possa fazer, a não ser virar uma sombra 24h e isso também não é vida. Então, não se culpe. Perdoe a pessoa pela escolha dela também; não é egoísmo querer que o insuportável pare. Não vivam com esses dois pesos.

Outra constante nos comentários é ser surpreendido porque a pessoa era feliz, ativa, funcional, não demonstrou nenhum sinal. Nós somos ótimos atores. E nem sempre é atuação. Em muitos casos, chamo de energia seletiva.

A foto abaixo é de uma mini samambaia que morreu faz alguns meses e seria só pegar e jogar no lixo. Mas eu não o faço, porque o meu Não é maior do que meu Sim. Não interfere na minha vida, nem na vida dos outros. Já, se um amigo pede pra eu tirar todas as plantas mortas da casa dele, limpar o quintal e plantar flores, eu vou lá e faço.

Se eu pego um freela, faço no último do último minuto, quase sofrendo. Se tem que fazer 20 mil horas extras no trabalho, eu faço com um sorriso no rosto. Viu, energia seletiva.

Você sabia que há bulas de antidepressivos, cujo possível efeito colateral é aumentar as chances de suicídio? Não é muito louco isso? Quando questionei a psiquiatra, ela me explicou que há pessoas que estão tão mal e apáticas, que quando sentem a melhora, não querendo voltar para onde estavam, aproveitam o momento de energia dado pela medicação para morrer. Ou seja, existem casos, mas não pinte um estereótipo de pessoa triste que não sai da cama, quando alguém falar que tem depressão, para duvidar do que ela está passando.

Minhas palavras hoje são pra muitas Marias.

Pra de ontem, desejo que tenha encontrado a paz.
Pra Maria-eu-e-muitas-iguais, procurem ajuda profissional.
Pra Maria-amiga, saiba que não há forma de ajudar, se a pessoa não quiser ajuda. Mas, ouvir sem julgar (não precisa encontrar soluções, nem dar respostas "certas") e fazê-la se sentir acolhida (com atitudes, não só com palavras) já é uma grande ajuda.
Pra Maria-sabe-tudo, se sua opinião não for acrescentar nada, fique calada. Muito ajuda quem não atrapalha.

Beijos pras Marias,
sejam elas homens, mulheres, adultos ou crianças.

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