26 de outubro de 2018

contraditório

Quando meu pai morreu, eu sonhei muito, mas muito com ele no primeiro ano. Depois sonhei menos, e hoje em dia, a sensação que eu tenho é que ele aparece quando eu preciso (mesmo que às vezes só pare para perceber DEPOIS que ele vem me dar oi).

Da penúltima vez, eu me sentia pequena, incompetente e extremamente frustrada e ele, com um sorriso silencioso me disse que eu era mais do que aquilo; que eu podia mais do que aquilo; e já acordei com o coração mais tranquilo.

Hoje sonhei tão real, com pessoas que conheço, com sentimentos que me cercam e com um telefonema comunicando uma morte. Logo após avisar minha mãe, saio de casa, chega um carro com 1/4 da roda faltando (mas com o pneu redondinho e cheio. rs). Entro e pergunto: bateu o carro, pai? E ele diz: não, bateram em mim, um gol.
Nisso, penso em como dar a notícia a ele e acabo falando logo. Peço que encoste o carro pra me dar um abraço. Ele para o carro numa descida e nos abraçamos chorando.

Em algum ponto dessa parte eu me questiono como ele estava dirigindo. Seria o carro adaptado? Teria ele voltado com a saúde perfeita? Ter esses pensamentos foram o começo do fim do meu sonho, onde a realidade e as lembranças reais começam a te indicar que é um sonho...

Enquanto o abraçava, percebi que estava sonhando, mas ao "despertar", permaneci de olhos fechados e a sensação de estar abraçada a ele, permaneceu. Eu senti ele entre meus braços, minha cabeça deitada sobre o ombro dele. Senti o calor humano e comecei a chorar porque não queria abrir os olhos e ver o que é que eu estava abraçando... seria o travesseiro, o cobertor? Então me mantive assim, imóvel, de olhos fechados, chorando e me despedindo. Quando a sensação passou, abri os olhos e só estava abraçada a uma ponta da mantinha e, sobretudo, a mim mesma.

Contraditório é estar feliz demais de tê-lo abraçado, mas com o peito apertadíssimo de saber que quanto mais nítido o sonho, mais dura é a fase na qual me encontro.

Beijos,
Betty.