1 de junho de 2016

Vamos falar sobre o Elefante branco no canto da sala, parte 2

Fui convidada por um amigo, criador do Torta de Climão, a dar meu depoimento sobre abuso sexual e o mais louco disso tudo é que eu já tinha visto o post dele, pedindo a quem tivesse interesse, que compartilhasse suas histórias e em nenhum momento passou pela minha cabeça que eu fizesse parte deste imenso grupo de quem já foi vítima de abuso. Sim, somos vítimas e isso não significa que estamos fazendo "mimimi de coitadinhos", significa que se há um agressor, há uma vítima. Significa que em algum momento, alguém que tinha uma força maior do que a sua (seja física, seja psicológica, seja pela ocasião) fez algo que ia contra a sua vontade e o feriu (fisicamente, moralmente ou de alma). Não passou pela minha cabeça, assim como não passa pela cabeça de muitos, que meu namorado (marido, amigo ou parente também entram aqui) possa ter feito algo contra mim. CLARO que o que passei foi abuso e foi abuso dos gigantes.

Muitos sabem que passei por um "ano negro", como costumo intitulá-lo, mas ninguém sabe de tudo que vivi e confesso que começo este texto sem saber se vocês saberão de tudo ao final dele, pois tenho em mim, que o importante não são os detalhes sórdidos, mas o que se tira dele. Por quê, agora (depois de uns 16 anos), dividir isso com o mundo? Leia e entenda.

Depois de 6 anos de namoro e uns 6 meses de separação, ao reatarmos, tive de volta uma pessoa 100x mais ciumenta, possessiva, agressiva e dominadora. Por um ano (em que mal saíamos de casa) fui humilhada, torturada psicologicamente (vadia, vagabunda, seus pais não imaginam quem você é!), agredida fisicamente, obrigada a sexo punitivo e tive minha auto-estima reduzida a pó. Acreditei no começo, que por amor, tudo passaria. Acreditei no meio, que aquilo era o que eu merecia. Acreditei, por um bom tempo, que só a morte me salvaria. Acreditei no fim, meio que por um milagre, sem ajuda nenhuma pois tinha muita vergonha de mim e daquilo tudo, que eu podia me libertar e foi o que aconteceu.

Bem, ao escrever as linhas e remexer no passado que eu não admito, mas deixo o mais fundo possível escondido dentro de mim, tenho vontade de chorar, de ir ao encontro dele e dar-lhe um soco na cara. Tenho dó... de mim do passado, mas dele também, porque, normal, ele não é.

Por um bom tempo, também sem admitir para mim mesma e para os outros, eu fiquei muito traumatizada. Tanto que isso estragou outro relacionamento meu, porque julguei que ele também pensaria tudo que o outro pensou e me veria como uma vagabunda! Pelo desfecho, talvez visse mesmo, mas a opinião dele e de qualquer outra pessoa, pouco me importa agora, pois finalmente sei quem eu sou, sei dos meus valores, sei do meu caráter e nada disso pode, deve ou é determinado pelo meu passado.

O que importa nessa história toda é que por tanto tempo, sem questionar, eu acreditei MESMO que eu era a errada da situação, porque, estando solteira, em seis meses, beijei uns 4 caras e transei com um desconhecido, enquanto ele namorava outra. Totalmente vadia, né (ironia, mode on).

O que importa é que você que me lê, pare de julgar os outros sem saber que sapatos eles vestem. Não, mulher que não vai embora no primeiro sinal vermelho, não gosta daquilo; não gosta de apanhar; não merece ser estuprada... muitas vezes, só não tem força para sair daquela bolha.

O que importa é que você que lê entenda que, homem ou mulher, cada um tem o direito de fazer o que quiser com seu corpo, sem ser chamado de nada, nem de "garanhão", nem de "não gosta da fruta", nem de "fácil", nem de "madre teresa".

E o mais importante de tudo! O que importa é que você que lê, caso se reconheça no texto e se perceba em um relacionamento abusivo entenda que SIM, você pode e merece mais do que isso. Sim, existe saída e sim, procure ajuda o quanto antes.

Beijos,
Betty.