17 de maio de 2017

Não vou a lugar algum...

De tempos em tempos alguém decide parar de existir e deixa uma carta para dizer porque a vida tornou-se "invivível".


Eu, particularmente, fico:
- triste pela pessoa ter optado por deixar escrito, aquilo que ela poderia ter gritado, brigado, lutado, mas eu a compreendo, tem horas que cansa (muito, muito, muito) mesmo.
- com uma puta sensação de impotência por não poder abraçar o mundo, mas mal dou conta das minhas causas e de conviver bem no meu mundinho, que se resume a menos do que uma centena de pessoas.


A vida, no geral, tem sido estressante. Frases como "o mundo está ao contrário e ninguém reparou", "para o mundo que eu quero descer", "cadê o meteoro que ia cair sobre a terra", "Jesus, me salva", infelizmente viraram pensamentos diários e frequentes.


Por tudo que acontece no mundo? Também, mas honestamente, me dói mais o que acontece ao meu redor. Quando eu penso que é tão, mas tão difícil (cansativo, exaustivo e tem elevado meus níveis de ansiedade e estresse no patamar físico) mostrar o outro lado pra quem foi ensinado a pensar numa linha reta ou, no mínimo, gerar uma empatia em assuntos que não atingem a maioria das pessoas com quem eu convivo (eu já disse mais de uma vez, sou privilegiada: nunca passei fome, sempre tive teto, banho quente, pais ótimos e amigos muito bons. Nunca sofri preconceito ou bullying. Abuso, já.), eu tenho vontade de desistir.


Parece muito simples, ignorar, calar-se e tocar a vida. Mas, valeria a pena viver nesse mundo? Eu sei que não vou mudar o mundo sozinha. Sei também que sequer afetaria 20% dessa centena de pessoas do meu mundinho de forma positiva. Então, se é pra acostumar-se, prefiro não estar aqui pra ver o que eu vejo hoje. Como não vou a lugar algum, só me resta continuar batendo de frente com os outros.

Eu fico chateada com coisas que muita gente não liga e não ligo pra coisas que a maioria liga. Você ficaria chocado(a) se soubesse. Eu não tenho culpa, tenho, sim, muita sorte, de ter sido cercada a vida toda do que considero respeito.


Sim, eu admito que sou teimosa, acomodada, crítica, pé atrás e posso ser chata pra caralho. Mas não me veja como uma fresca, inimiga, retardada que não sabe brincar. Eu sei brincar, mas meus limites não necessariamente são os mesmos de todo o resto. Também não quero mudar o mundo pra que se adapte às minhas regras, mas respeitar quando fico chateada seria ótimo. Empatia, sabe.


Esta mudança de vida tem sido 10x mais difícil do que eu esperei, imagine você, como isso vira uma bola de neve pra quem odeia mudança até de interface dos programas?


São raros os dias em que eu não me sinto inadequada, como quando você insiste em encaixar aquela pedaço de quebra-cabeça que sabe que não é dalí. EU que passei os últimos meses repetindo o mantra de que "ser feliz é ser quem você quer ser" ou EU que já andei por esse caminho e sei o quão tênue é a linha entre o amor próprio e a falta total de auto estima.


Me sinto uma árvore secando, e não é por falta de quem a regue, mas os nutrientes não chegam à minha raiz. Minhas unhas e cabelo nunca estiveram tão quebradiços e secos, o que só mostra que o exterior é de fato um reflexo do seu interior.

Mas esse texto não é sobre mudar os outros. Isso não existe, ninguém muda por nós, a não ser nós mesmos. Esse texto é sobre o que eu faço de melhor pra ordenar os pensamentos: desabafar escrevendo. E se de quebra te levar a refletir, saí no lucro.


Beijos.