24 de novembro de 2015

Quando a pimenta não é nos olhos dos outros

Eu, como mulher, japonesa (descendente), heterossexual; que estou longe de ser rica, mas mais longe ainda de ser pobre; que sempre estudei em escola pública (com exceção do cursinho) e nunca vivenciei nem briga no pátio, que dirá comigo; que fui filha de pais não divorciados e nunca presenciei sequer um quebra-pau entre eles. Nenhum!

Na peneira da exclusão, pouquíssimas coisas poderiam me prender. Nem mesmo "ser mulher", pois não posso considerar que eu sofra nem 5% do que muitas sofrem pelo simples fato de serem mulheres. Sim, sou privilegiada e reconheço isso.

Tudo isso pra dizer que hoje faz um mês que EU FIZ UMA TATUAGEM e ela, num piscar de olhos, me jogou num mundo preconceituoso do qual, como todos os outros, até então, eu só havia ouvido falar.

Pra citar um exemplo recente: uma senhora (boazinha, sempre me tratou super bem) me questionou se eu não tenho medo. Já sabendo a resposta, dei uma de João sem braço e perguntei, medo de que? E ela mais que depressa me contou sobre uma reportagem onde "milhares" de pessoas estão com tatuagens infeccionadas e, sabe-se lá como (mentira, eu sei - é a lógica da tatuagem = bandido, promiscuidade) a conversa terminou com uma estatística fantasma vinda de uma amiga, "de que os índices de aids e câncer de boca e pescoço estão crescendo a um grau alarmante em Londrina, mas as autoridades não divulgam, igual suicídio". E terminou dizendo que o culpado disso, "o sexo oral, causa problemas psicológicos graves nas pessoas".

Grave, né. Grave mesmo, é a limitação das pessoas em compreenderem algo que não faz diferença na vida delas. Mas, quando eu vejo como limitação, tento ser mais compreensiva. Aprendi com uma amiga minha (Nana, essa é pra você).

Durante esse mês tive muitas constatações, umas engraçadas e outras como essa aí de cima. A parte engraçada é que, eu nunca soube, mas existe um "clube não dito, dos tatuados" e o único requisito é você ter uma tatuagem. As pessoas se identificam com você e, pelo menos eu, vejo graça.

Outro pré-conceito (não considero preconceito) que está mais pra engraçado é associarem a minha profissão com as tatuagens. Não foi uma ou duas pessoas que me disseram isso. E o engraçado é que, puxando pela memória, se for tirar a turma que se formou comigo como base, essa estatística vai por água abaixo.rs

Tenho triiiiinta e sete anos e posso afirmar com categoria que um desenho só modifica o meu exterior. Continuo careta/louca na mesma proporção de sempre e, principalmente, o que me torna eu (caráter e princípios) continua aqui, igualzinho como há um mês atrás.

Então, se você me ama, por favorzinho, continue me amando. Se você não ia com a minha cara e pensou em mudar de opinião, por 1000 favorzinhos, continue onde está, bem longe. hahahaha.

Por fim, a quem interessar possa, eu estou bem satisfeita e o sentimento de realização de um desejo é muito, muito bom. Mesmo que eu não soubesse que queria tanto. rs

Beijos,
Betty.

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